Monday, June 19, 2006

Conto Africano

Numa tarde de Verão, depois dos cantos e danças, todos se sentaram em redor do chefe da tribo. Ele fixou o olhar num dos seus guerreiros e começou a falar-lhes assim:
- Se alguém fizer mal ao teu irmão e tu quiseres vingar-te matando o assassino, faz o seguinte; senta-te, enche o cachimbo e fuma. Compreenderás então que a morte é um castigo desproporcionado e resolverás dar-lhe apenas uma boa sova.
Antes, porém, enche novamente o teu cachimbo e fuma até o esvaziares. Convencer-te-ás que, em vez da sova, bastaria uma boa repreensão. Se, entretanto, encheres o cachimbo pela terceira vez e ficares a reflectir até o esvaziares, ficarás persuadido que é melhor ir ao encontro do inimigo e abraçá-lo.

in "Bons dias" dePedrosa Ferreira

Saturday, June 17, 2006

Parábola do Monge e do Diamante

Um monge ia a caminho e sentou-se debaixo de uma árvore para passar a noite. Nisto, aproximou-se um aldeão, arquejado, para lhe dizer:
- Vá lá, rápido, dá-me a pedra, a pedra!
- Que pedra?- perguntou-lhe o monge.
O aldeão respondeu-lhe:
- A noite passada, sonhando, vi um santo, e assegurou-me que, vindo aqui durante a noite, encontraria um monge, que me daria a melhor e a maior pedra preciosa do mundo: e que assim tornar-me-ia rico para sempre.
O monge revistou o seu saco e deu-lhe um diamante, dizendo-lhe:
- Toma lá, pode ser que seja isto, quem sabe. Encontrei-o há dias, na estrada, enquanto ia a caminho.
O aldeão pegou ansiosamente no diamante, despediu-se extasiado, olhando-o por um bom bocado, e depois foi-se embora para casa a correr. Passou toda a noite às reviravoltas na cama. Estava tão nervoso que era incapaz de dormir.
No dia seguinte, foi à procura do monge e disse-lhe:
- Dá-me, por favor, a riqueza que permite que te desprendas com tanta facilidade deste maravilhoso diamante. Indica-me o teu tesouro.

in "Topas... outra ves?..."

Thursday, June 15, 2006

Em Construção

Era uma vez um pai que estava continuamente a ser incomodado pelo seu filho.
Para o distrair, arrancou de um velho atlas de geografia uma folha onde estava desenhado epintado o mapa-mundi: todas as nações da terra com as cidades mais importantes.
Pegou numa tesoura, desfez omapa em pedaços e entregou-os ao seu filho para que compusesse ele o puzzle improvisado. O pai pensava: "Demorará muito tempo e ficará entretido sem me aborrecer!"
Passados poucos minutos, regressa a criança com todas as peças no seu sítio exacto. O pai, admirado, perguntou-lhe:
- Como é que conseguiste pôr ordem tão depressa?
Respondeu a criança:
- Muito simples, pai. No verso estava desenhado um homem. Primeiro reconstrui o homem. E assim o mundo ficou automaticamente ordenado.

G. Negri in "Bons dias"

Wednesday, June 14, 2006

A verdade

Era uma vez um homem que saiu de casa decidido a encontrar a verdade. A todos fazia a mesma pergunta:
- Sabes onde posso encontrar a verdade?
Encontrou um agente de publicidade, que lhe respondeu:
- A verdade? Isso para que é que serve? É coisa que não me interessa!
Encontrou uma dona de casa, que lhe respondeu:
- Que pergunta tão estranha! Talvez a minha comadre saiba. Ela sabe tudo!
Dirigiu-se a um polícia, que lhe disse:
- A verdade!... Tenho ouvido falar muito dela nos tribunais, mas duvido que ela se encontre lá.
Entrou, finalmente num supermercado onde há de tudo. Perguntou a um dos empregados:
- O senhor sabe dizer-me em que loja posso encontrar a verdade?
O empregado, que até tinha estudado filosofia, apontou-lhe uma livraria.
O desconhecido viu livros, muitos livros que falavam de verdades. Havia ali verdades para todos os gostos e feitios; a verdade do marxismo, da economia, da política, da publicidade, dos filósofos, a verdade do operário, da criança, dos cientistas.
O desconhecido folheou livros. No final disse:
- Não encontrei o que desejava. É que eu não ando à procura das verdades deste ou daquele. Eu procuro a Verdade.

Adaptado de A. Pinto

Tuesday, June 13, 2006

O Silêncio

Um homem dirigiu-se a umconvento de clausura, isto é, um convento onde se vive longe do ruído da cidade e num silêncio desejado.Perguntou a um desses monges:
- Que aprendeis vós com a vossa vida de silêncio?
O monge estava a tirar água de um poço. Disse ao seu visitante:
- Olha para o fundo do poço. Que vês lá dentro?
O homem olhou para dentro e disse:
- Não vejo nada.
O monge ficou algum tempo sem se mover e no final disse ao visitante:
- Contempla agora. Que vês no fundo do poço?
- O homem obedeceu e repondeu:
- Agora vejo-me a mim próprio: espelho-me na água.
O monge concluiu:
- Vês? Quando eu mergulho o balde, a água fica agitada. Agora, pelo contrário, está tranquila. É esta a experiência do silêncio: o homem vê-se a si próprio.

in "Bons dias" de Pedrosa Ferreira